Cadernetas usadas por Dom Pedro II em viagens pelo Brasil e por outros 20 países estão sendo restauradas
15/09/2025
(Foto: Reprodução) Museu Imperial, em Petrópolis, no Rio, está restaurando as cadernetas de Dom Pedro II
No fim de 2025, os brasileiros vão poder ver bem de perto uma coleção de anotações que têm um valor enorme. Em parte porque elas registram as impressões de um viajante que correu o mundo no século XIV, escrevendo sobre o que via e o que sentia. Mas o que faz desses diários de viagem um tesouro histórico é o autor deles.
Quem visita o Museu Imperial de Petrópolis, na região serrana do Rio, nem imagina que uma das relíquias mais preciosas do acervo não é acessível ao público.
As 44 cadernetas usadas por Dom Pedro II em suas viagens pelo Brasil e por outros 20 países estão sendo restauradas. O trabalho, que começou em abril, deve ser concluído em novembro. São anotações e desenhos considerados patrimônio documental da humanidade pela UNESCO e que estarão abertas ao público até de 2025.
“É uma sensação de privilégio, de alegria, de nervoso, de tensão, porque é um acervo muito raro e importante para uma nação inteira, não é só para mim, então, acaba que é uma responsabilidade muito grande", diz Beatriz Pena, responsável pelo Laboratório de Conservação e Restauração do Museu Imperial.
Apenas uma das cadernetas ainda guarda a lapiseira original.
“Essa é ótima, essa aqui. Ela é bem interessante. Primeiro, que já é legal que ele tem esse fecho aqui que é bem diferente das demais. Você aperta aqui e abre, já é diferente e ela tem esse lápis, essa lapiseira...”
Entre os registros, a tradução de algumas palavras usadas pelos indígenas da etnia Purí, numa expedição ao Espírito Santo. A viagem aos Estados Unidos, em 1876, rendeu uma crítica à novidade tecnológica do momento.
“O telefone não deu perfeito resultado.”
A religiosidade de Pedro II foi exposta nas anotações feitas no Oriente Médio:
“Acampei às 4h25 do lado norte de Jerusalém vendo por cima das muralhas da Idade Média o Monte das Oliveiras. Às 4 achava-me no Santo Sepulcro onde orei pela minha filha, netos, irmãos e todas as pessoas que estimo.”
Petrópolis já era uma cidade vulnerável a deslizamentos e enchentes à época de Pedro II. E isso não passou despercebido pelo olhar atento do imperador, que registrou os resultados de um temporal e chegou a recomendar o plantio de árvores para proteger as encostas.
“Ontem de noite houve uma grande enchente. Subiu três palmos acima da parte da Rua do Imperador ao lado da Renânia: e um homem caiu no canal devendo a vida a saber nadar e aos socorros que lhe prestaram. Conversei hoje com o engenheiro do distrito; pouco se fez do ano passado para cá. Os estragos que fez a enchente levaram dois meses a reparar, segundo me disse o engenheiro. Falei-lhe sobre a vantagem de introduzir na colônia a cultura da amoreira e a criação do bicho-da-seda.”
Atento às ciências, às artes e à cultura de cada lugar que visitou, Pedro II eternizou nas cadernetas um olhar privilegiado da história.
“Elas foram um verdadeiro panorama da segunda metade do século XIX. Ele anotava as transformações e as permanências do século XIX, ou seja, é possível identificar aqui a passagem para a modernidade. Mas, o interesse dele em particular nós acreditamos que eles construíram um texto para nós. Ele escreveu para a posteridade", ressalta Maurício Vicente Ferreira Júnior, diretor do Museu Imperial.
Museu Imperial, em Petrópolis, no Rio, está restaurando as cadernetas de Dom Pedro II
Reprodução/TV Globo